


Durante as rotas do Errante, coletivo de fotografia de rua do qual faço parte, me deparei com uma cena que me atravessou de maneira silenciosa, mas poderosa. O senhor retratado é morador de rua; já o observei em outras ocasiões, empurrando um carrinho repleto de recicláveis.
Havia algo de curioso e profundamente triste naquele instante. Uma dualidade que refletia a vulnerabilidade social que, no Brasil, se intensifica a cada dia, alcançando níveis insuportáveis. O que resta para essas pessoas? Qual a projeção de vida para quem luta, incessantemente, apenas por mais um dia? Onde reside a esperança? Seria a sorte cega de um prêmio de loteria a única resposta?
Ao compartilhar essa fotografia, um amigo sugeriu uma legenda: "a estranha mania de ter fé na vida". Uma referência à música "Maria, Maria", de Milton Nascimento.. Há, de fato, algo de misterioso e quase incompreensível na força que brota daqueles que têm tão pouco, apesar dos olhares cansados de quem luta para sobreviver dia após dia.
Semanas depois, vi o mesmo senhor. Lá estava ele, empurrando seu carrinho de recicláveis, repetindo a rotina de sobreviver em meio à indiferença do mundo ao redor.
Essa fotografia não romantiza a vulnerabilidade, e sim traz um convite à reflexão. É um chamado para enxergar, sentir e tentar compreender a força extraordinária que pulsa nas pessoas que, apesar de tudo, seguem em frente, guiadas por uma fé que desafia a lógica, mas que talvez seja a única coisa que realmente as mantém vivas.