Um povo sem memória é um povo sem futuro

Sim, sempre fui um apaixonado por futebol e todo lugar que visito busco conhecer um estádio local. Em maio de 2025 visitei Santiago e como de costume escolhi um estádio para conhecer, mas desta vez, não era por motivos de futebol.

Apesar de ser lindo, o Estádio Nacional do Chile carrega em sua história momentos horríveis, onde pessoas foram presas, torturadas e mortas. Após o golpe de estado comandado por Augusto Pinochet em 1973, o estádio foi usado como prisão para aqueles que se opunham ao golpe.

Durante minha visita a Santiago, fui até o estádio buscando ver de perto o memorial daqueles que ali foram presos. Uma mulher e um senhor me receberam e comunicaram que as visitas eram apenas aos sábados. Expliquei que retornaria ao Brasil no dia seguinte e tive a sorte e boa vontade deles, que disseram: “bom, já que é assim, vamos te mostrar uma parte”. Esse senhor era Patrício Sandoval, responsável por guiar as visitas. Mas, não era só isso. Ele revelou que foi um dos presos e torturados naquele ano.

Com a fala lenta e o olhar distante como quem vasculha a memória em busca de cenas que, infelizmente, jamais serão esquecidas, Sandoval relembrou detalhes marcantes: o local onde dormia com cerca de 600 pessoas, enfrentando o frio intenso, e apontou, nas fotos penduradas na parede, alguns companheiros que ainda estão vivos, além de outros que, tristemente, já se foram. Ele contou ainda que, ao longo dos anos, recebeu no memorial pessoas que afirmaram ter sido presas ali, embora não existam registros oficiais desses casos, o que indica que o número de presos e torturados pode ser muito maior do que é de conhecimento público.

Perguntei a ele como era, dia após dia, caminhar por aquele lugar e reviver memórias que o tempo não apaga. Com a serenidade de quem transformou dor em propósito, respondeu que é preciso lembrar para que o povo jamais esqueça o que aconteceu, e para que nunca mais se repita. Em seguida, saiu com as chaves dos cadeados que um dia o mantiveram trancado, sem saber o que seria do seu futuro e das outras centenas de pessoas.

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